terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Arte Gótica

Arte Gótica







Situa-se geralmente o nascimento da Arte Gótica em Saint-Denis (séc XII).

Identifica-se a arte gótica pelo cruzamento de ogivas e pelos arcos botantes.



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O modo de ver e de fazer ver é reflexo de um modo de pensar. A catedral gótica é um espelho desta época que coincide com a condenação de Abelardo, com o começo das obras em Saint-Denis, com a suma teológica de Alexandre de Hales e o ensinamento público de Aristóteles.

O gótico não é, portanto, somente um recurso das possibilidades arquitetônicas do cruzamento de ogivas e do arcobotante. É a busca de uma luz sempre mais abundante, de uma elevação sempre mais alta e de uma unificação do espaço pelo descolamento dos volumes.



“A beleza é o resplendor da forma sobre as partes proporcionadas da matéria” (St. Tomás, de Pulchro et Bono).



Podemos distinguir os seguintes períodos na arte gótica:

1o Período – Gótico Primitivo (1140 a 1190)


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* Rosácea: predomina mais parede que vitral


“O círculo - entre todas as figuras - e o movimento circular - entre todos os movimentos – são soberanamente perfeitos porque neles se verifica o retorno aos princípios” (St. Tomas – Suma Contra Gentis, II, 46-1).





* Portais quase em arco românico
* Preponderância de espaços cheios sobre vazios
* Colunas e pilastras grossas
* Arcobotantes curtos e grossos
* Divisão da fachada por pilastras

O gótico primitivo se exemplifica por duas catedrais: St. Denis e Sens.

Em Saint-Denis, o duplo deambulatório demonstra a liberdade de espaço possibilitada pelo cruzamento de ogivas. As colunas delgadas e audaciosas não serão seguidas imediatamente em outras localidades. Suger faz outra escolha importante, uma fachada harmônica seguindo o exemplo das catedrais da Normandia.

Em Sens, as escolhas arquiteturais foram menos audaciosas, a alternância de suportes fortes e fracos é conservado juntamente com o arco em 6 gomos. As paredes permanecem espessas, entretanto as inovações são belas e bem presentes: a claridade fornecida por grandes janelas do bas-côtés é abundante.


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As contribuições arquitetônicas de Sens são apreendidas mais rapidamente que as de St. Denis. Elas são transportadas, com numerosas adaptações à Senlis, Noyon. Notre-Dame de Noyon inaugura a fórmula de elevação em 4 níveis (grande arcadas, tribunas, trifórium, janelas altas) que, sem ser exclusivo (Notre Dame de Paris possui 3 níveis), conhecerá uma grande difusão durante toda segunda metade do século XII.

A partir de 1160, começam construções de catedrais cada vez mais altas - Notre Dame de Paris, Laon, etc. Em Laon o mestre-de-obras utiliza paredes recortadas, uma elevação em 4 níveis. Em Paris, a parede é simples, o trifórium foi suprimido para proveito das tribunas e de uma iluminação mais abundante.
Este segundo modelo conhecerá maior sucesso entre os mestre-de-obras.

2o Período: Gótico Radiante (1190 a 1350)



* Rosácea Radiante


“Una e simples no seu princípio a luz divina se divide e se diversifica na medida em que as criaturas intelectuais se afastam como linhas de um centro” (St. Tomas, Summa Teologiae I,89,1)


* Ogivas lanceadas
* Equilíbrio entre área vazia e cheia
* Colunas fasciculadas com capitel
* Galeria dos Reis
* Arcobotantes longos, finos e elegantes.

Em 1190, o gótico encontra um novo impulso, principalmente ao Norte de França. As duas catedrais mais marcantes deste período são Chartres e Bourges.

Figura: G.Dehio & G von Bezold, die Kirchliche Baukunst des abendlandes : historiches und systematisch dargestellt

Bourges adotou uma elevação piramidal em 5 níveis, devido a utilização do duplo colateral.
1 - Arco “formeret” : ogiva sexpartida une duas traves.
2 – Elevação da nave central
3 – Elevação do primeiro colateral, englobado pela grande arcada da nave central.
4 – Elevação do segundo colateral englobado pela grande arcada do primeiro colateral.
É a combinação da elevação da nave central e dos dois colaterais que constitue uma elevação em 5 níveis.




A partir de 1231 emerge progressivamente um novo estilo que se caracteriza pela verticalidade, pilares fasciculados e edificação de paredes de vidros. A origem do gótico radiante pode ser situado em Paris. Lá ainda, a Basílica de St. Denis figura como precursora, pois suas inovações aparecem com a reforma do coro. A constituição de paredes de vidro toma toda sua amplitude na Saint-Chapelle

O gótico radiante se impõe realmente a partir de 1240. As catedrais então em construção, como Amiens, Reims ou Beauvais, mudam parcialmente suas plantas (partes altas do coro em Beauvais, fachada ocidental em Reims..) É nesta época em que a rosácea torna-se um elemento essencial da decoração, apesar de ser já muito utilizada. A multiplicação das capelas laterais permite aumentar o espaço da catedral. As adaptações do gótico variam bastante de uma região a outra.


3o Período – Gótico Flamejante (1350 a 1500)






* Rosácea com chamas
* Cruzamentos numerosos de ogivas
* Ogivas Abatidas
* Ogivas com Cortinas
* Colunas cilíndricas sem capitel
* Preponderância da decoração sobre a arquitetura
* Arcobotantes enfeitados



O termo “flamboyant” deve-se a forma de chamas que preenchem o interior das janelas, principalmente das rosáceas.

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Multiplica-se os “gâbles” e os pináculos exteriores, enquanto no interior as ogivas tornam-se muito complexas com grande luxo. Constata-se, também, um retorno mais freqüente às elevações em dois níveis que fazem desaparecer as paredes entre as grandes arcadas e as janelas altas (Ex. Saint Germain l’Auxerrois). Mais tarde, certos elementos de arquitetura gótica são utilizados com fins essencialmente decorativos. É o caso do cruzamento de ogivas, que torna-se mais complexo até perder seu sentido.




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In corde Iesu,
André Palma.

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Bibl
iografia:
- Simson, Otto Von “A Catedral Gótica”, Lisboa – Editorial Presença - 1991
- Cali, François / Moulinier, Serge “L’Ordre Ogival” – Paris – B. Arthaud - 1963
- Cali, François “L’Ordre Flamboyant” – Paris – B. Arthaud - 1967
- Focillon, Henri “Arte do Ocidnte” – Lisboa – Editoral Estampa - 1993
- Panofsky, Erwin “Arquitetura Gótica e Escolástica” – São Paulo – M. Fontes - 1991
- Cosse, Jean “Initiation à l’art dês cathédrales” – Auxerre – Zodiaque - 1999
- Fedeli, Orlando – “Filosofia e Escultura na Idade Média” publicado no jornal Veritas, 1992.